24 de jun. de 2010

Conjuntura da Semana

Conjuntura da Semana. Uma leitura das 'Notícias do Dia' do IHU de 07 a 22 de junho de 2010

A análise da conjuntura da semana é uma (re)leitura das 'Notícias do Dia' publicadas, diariamente, no sítio do IHU. A presente análise toma como referência as "Notícias" publicadas de 07 a 22 de junho de 2010. A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos - IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores - CEPAT - com sede em Curitiba, PR, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.

Sumário:

Eleições 2010
Pragmatismo e verticalismo
'Manda quem pode, obedece quem tem juízo'?
Movimento Social x pragmatismo político
Ficha Limpa
Vitória política e moral da sociedade brasileira
Vazamento no Golfo do México – desastre deve faz pensar – e agir!
Maior desastre ecológico da história dos Estados Unidos
British Petrolium fez economia "de risco"
Desastre deixará rastro ambiental sério e duradouro
Política climática e energética de Obama podem sofrer inflexões
Vazamento no Golfo – melhor propaganda pelas energias alternativas
Conjuntura da Semana em frases

Eis a análise.

Eleições 2010:  Verticalismo e pragmatismo

O mapa das últimas cinco eleições presidenciais mostra que é impossível chegar ao Planalto sem as máquinas político-partidárias que controlam os votos dos grotões e das periferias das grandes metrópoles. Essa é a principal conclusão do Estudo "A geografia do voto nas eleições presidenciais do Brasil: 1989-2006", do cientista político Cesar Romero. "Cada eleição tem sua história, mas as estratégias vitoriosas são sempre parecidas. Ganharam os que foram mais pragmáticos", diz ele.

Na opinião de Romero, a constatação obriga os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) a abraçar o pragmatismo e buscar aliados malvistos pela opinião pública e por seus próprios partidos. "Por saber disso, os dois têm adotado a mesma tática", analisa. "Esta será uma disputa sem ideologia, de máquina contra máquina". As conclusões do professor da PUC-Rio são confirmadas pela intensa movimentação do PT e do PSDB. Ambos, sedentos por alianças que aumentem seu cacife eleitoral, não hesitam em passar por cima dos "princípios" partidários e, pior ainda, humilhar e constranger instâncias regionais, locais e militantes.

A equação formulada pelos partidos é simples: o caminho à vitória presidencial exige um preço a ser pago. Os "sacrifícios" regionais e locais são necessários para uma conquista maior, o poder central, através do qual todas as renúncias realizadas serão redimidas uma vez que com o poder nas mãos, o projeto maior poderá ser implementado. Nessa trajetória denominada de "estratégia eleitoral", o particular tem submeter-se ao geral e a "conjuntura política local" precisa ser modelada e ajustada à "conjuntura nacional". A estratégia do PT, por exemplo, é assim definida por José Genoíno: "Estamos fazendo tudo, o casamento com o PMDB, em nome do projeto nacional".

Esse processo de verticalização torna os partidos "estruturas burocráticas de tipo empresarial. Mas do tipo empresarial tradicional, ao estilo taylorista em que a cúpula pensa e planeja e os filiados fazem e dão o sangue pela causa", comenta o sociólogo Rudá Ricci.

Essa estratégia eleitoral desde cima cria constrangimentos em todos os partidos, porém faz-se sentir de forma mais intensa no Partido dos Trabalhadores (PT) que nasceu contestando os métodos políticos autoritários e que sempre se gabou de praticar a democracia interna. Os casos do Maranhão e de Minas Gerais são emblemáticos e põem por terra definitivamente os argumentos daqueles que viam no PT rudimentos de uma vida partidária diferenciada.

Os casos do Maranhão e Minas em que as secções regionais do partido foram impelidas ao apoio aos candidatos do PMDB, Roseana Sarney e Hélio Costa, revelam o tamanho do sacrifício que o partido aceitou submeter-se para ter o apoio do PMDB, por outro lado, os casos testemunham a regra do pragmatismo com o método em detrimento do conteúdo programático.

O PMDB exigiu como contrapartida à formalização do apoio à Dilma Rousseff, que o PT apoiasse Hélio Costa em Minas Gerais e Roseana Sarney no Maranhão. Há outros casos, mas esses comportam dimensões maiores pelo significado que carregam em si. Em Minas, o PT abre mão de uma participação competitiva nas eleições ao governo do Estado e irá apoiar Hélio Costa que surgiu na política nacional surfando na fama de correspondente internacional da Rede Globo com suas reportagens desde os EUA sobre casos médicos. Atual ministro das Comunicações do governo Lula, Hélio Costa, terá provavelmente como vice Patrus Ananias, ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-ministro do Desenvolvimento Social e do Combate à Fome que catapultou o Bolsa Família como o mais bem sucedido programa social do governo Lula. Patrus rendeu-se ao pragmatismo, e tudo indica aceitará o "prêmio" do consolo como vice na chapa PMDB-PT.

Registre-se que no caso mineiro, a "imposição" do acordo nacional foi bem digerida pela secção regional do partido. Houve uma disputa interna que foi "liquidada" pelas prévias internas. Patrus Ananias – da velha geração do PT – que defendia candidatura própria foi derrotado por Fernando Pimentel – defensor da estratégia do PT nacional e dos acordos com o PMDB.

Segundo Fernando Pimentel, "o PT novo é o PT que faz alianças e convive com a realidade política brasileira, buscando transformá-la, mas não ignorando e reagindo como se fosse um marciano chegando à Terra". O ex-prefeito diz: "Não somos mais um partido que coloca a ideologia como uma máscara, como óculos escuros para não enxergar a realidade política", e continua: "O Fernando Henrique, quando foi presidente, teve que fazer aliança com o PFL. Era essa a conjuntura da época. Rendeu-se a isso e fez, e o Brasil avançou rumo à estabilidade econômica. Hoje estamos fazendo o Brasil avançar também, mantendo a estabilidade econômica. (...) Esta é a realidade política do País".

Fernando Pimentel é da "nova geração" de políticos do PT, aqueles que na definição de Rudá Ricci constituem o neo-petismo: pragmáticos, agressivos no controle da máquina partidária e negociadores por excelência. Fernando Pimentel já havia exercido todo o seu pragmatismo na costura de um acordo nas eleições municipais de 2008 em Minas, no qual estiveram no mesmo palanque PT e PSDB apoiando o mesmo candidato vitorioso, Márcio Lacerda (PSB).

A política de intervencionismo da estrutura político-partidária nacional sobre as estrutura político-partidária local, portanto, precisa em muitos casos ser relativizada. Há um crescente número de direções partidárias locais afinadas com o método pragmático. Método esse que já havia se verificado nas eleições municipais de 2008 – registre-se que nas últimas eleições municipais PT e PSDB, considerados arqui-rivais, se aliaram em 1.058 municípios brasileiros. O que se quer dizer, particularmente no caso do PT, é que há um crescente número de militantes "nas bases" que considera necessário, justificável e indispensável alianças para a conquista do poder, mesmo que essas signifiquem rendição programática e, mais à frente, partilha de poder com "figuras" antes criticadas.

'Manda quem pode, obedece quem tem juízo'?

Reações aos acordos pragmáticos continuam existindo, porém, aos poucos vão se tornando residuais. No caso mineiro, viu-se um solitário protesto de uma das fundadoras do PT mineiro, a professora, advogada e cientista política Sandra Starling. A primeira candidata mulher ao governo de Minas, ex-deputada estadual e ex-deputada federal, afirmou: "Deixo o PT com a dor de uma mãe que deixa um filho. Mas, agora, vale só o que Lula e sei lá mais quem querem". Segundo ela, "eu esperava que Minas se levantasse contra a decisão. Fazendo isso, daríamos força ao Maranhão, ao Paraná e a outros estados onde os petistas passam pela mesma questão. Mas a decisão tomada na cabeça do Lula virou imposição. O que ele está fazendo no partido é caudilhismo e ditadura".

Em nota, Sandra Starling disse: "Ao tempo em que lutávamos para fundar o PT e apoiar o sindicalismo ainda 'autêntico' pelo Brasil afora, aprendi a expressão 'manda quem pode, obedece quem tem juízo'. Era repetida a boca pequena pela peãozada, nas portas de fábricas ou em reuniões, quase clandestinas, para designar a opressão que pesava sobre eles dentro das empresas. Tantos anos mais tarde e vejo a mesma frase estampada em um blog jornalístico como conselho aos petistas diante da decisão tomada pela Direção Nacional, sob o patrocínio de Lula e sua candidata, para impor uma chapa comum PMDB/PT nas eleições deste ano em Minas Gerais. É com o coração partido e lágrimas nos olhos que repudio essa frase e ouso afirmar que, talvez, eu não tenha mesmo juízo, mas não me curvarei à imposição de quem quer que seja dentro daquele que foi meu partido por tantos e tantos anos", disse ela anunciando a sua saída do partido.

O pragmatismo orientado pela "estratégia eleitoral" assumiu toda a sua crueza no Maranhão. O apoio do PT a Roseana Sarney assumiu ares de escândalo porque o clã Sarney sempre se constituiu na antítese do partido. Sarney, oriundo da Velha República, carrega no DNA os métodos políticos da UDN – da sua fração vinculada às oligarquias rurais.  Vingou na política nacional à sombra do autoritarismo. Apoiou prontamente o golpe militar, virou liderança da Arena, posteriormente do PDS e do PFL. Indicado pelos militares como vice de Tancredo Neves acabou assumindo a presidência. O clã Sarney beneficiado pelos militares, pelas articulações no judiciário e concessões de rádios e TV passou a controlar o Maranhão e está entre os responsáveis pela situação de miserabilidade do Estado. Arleth Borges, cientista político da Universidade Federal do Maranhão afirma: "Do ponto de vista social e econômico, a situação do Maranhão é lastimável. E é natural que os Sarney sejam responsabilizados".

A oligarquia dos Sarney perseguiu duramente os trabalhadores que a ela se opunham. É nesse contexto que deve ser interpretada a greve de fome realizada por Manoel da Conceição Santos e pelo deputado Domingos Dutra (PT-MA), ambos, contrários a decisão do diretório nacional do PT de que os petistas no estado deveriam apoiar a reeleição de Roseana Sarney (PMDB-MA). Domingos Dutra resumiu assim a situação: "O que fizeram conosco foi como obrigar o PT paulista a apoiar Maluf", ou ainda: "Quando o PT vai pagar a dívida que tem com Sarney? Ele tem todos os cargos federais no Maranhão, no Amapá, tem ministério, derrotou Tião Viana. Por que essa dívida? Tem algo duvidoso. Está em jogo o respeito à democracia".

Manoel da Conceição Santos, considerado pela revista Teoria & Debate como "uma das mais importantes lideranças camponesas do Brasil em todos os tempos", conta em detalhes numa rica entrevista, a perseguição e a violência sofrida pelos trabalhadores pelo então governador José Sarney. O líder camponês chegou a perder uma perna como consequência de tiros que levou em um confronto em Pindaremirim, cidade maranhense, em 1968. Profundamente decepcionado, Manoel da Conceição escreveu duas cartas a Lula.  Em uma delas afirmou: "O que está sendo imposto a nós petistas do Maranhão extrapola todos os limites da tolerância e fere de morte a nossa honra e a nossa história".

Vários fundadores do partido no Maranhão reagiram fortemente à intervenção do PT nacional e também se manifestaram: "Somos fundadores do PT, nosso primeiro e único partido. Nestes 30 anos dedicamos o melhor de nossas vidas à sua construção, andando a pé, debaixo de chuva, sob o sol quente, enfrentando a fome, pobreza, violências, perseguições, abusos do poder econômico e o massacre político e midiático da família Sarney".

A profunda indignação e a greve de fome do deputado Domingos Dutra e, sobretudo, de Manoel da Conceição fizeram o partido recuar em sua intervenção. Porém, o que aconteceu no Estado é emblemático de uma nova dinâmica que tomou conta da lógica partidária, definida como "maquiavélica" por Leonardo Boff. O teólogo, manifestando-se sobre o caso de Minas e do Maranhão, afirmou: "Passei um fim de semana lendo pela enésima vez O Príncipe de Maquiavel no esforço de entender a atual política da Direção Nacional do PT. E aí encontrei as fontes que possivelmente estão inspirando o assim chamado 'novo PT', aquele que trocou o poder da vontade de transformar a realidade pela vontade de poder para compor-se com a realidade, notoriamente envenenada com o propósito de perpetuar-se no poder".

Aos casos de Minas Gerais e do Maranhão, outros poderiam ser acrescidos, como manifestações do pragmatismo rasteiro. Entre eles, o do Paraná e do Rio Grande do Sul. No Paraná, o PT busca de forma sequiosa a aliança com o senador Osmar Dias (PDT), figura política associada historicamente ao agronegócio e programaticamente perfilado na defesa das teses da bancada ruralista. Osmar Dias sempre foi um figadal inimigo do PT e já perseguiu servidores públicos do PT com demissões quando secretário de Estado, porém, como a "estratégia eleitoral" exige "palanques" fortes nos Estados para Dilma Rousseff, a secção paranaense do partido se dispôs a engolir o senador.

Situação esdrúxula acontece ainda no Rio Grande do Sul, onde Dilma Rousseff poderá ter dois palanques: o do PT com Tarso Genro e do PMDB com José Fogaça. Segundo a jornalista Rosane de Oliveira, a coisa poderia ter ficado ainda pior: "A direção nacional (do PT) conseguiu fazer em Minas o que tentou, sem sucesso, no Rio Grande do Sul. A ordem inicial era fazer qualquer negócio para manter a base unida em torno de Dilma, o que significaria não ter candidato ao Piratini e apoiar José Fogaça. O PT gaúcho resistiu, antecipou a escolha de Tarso Genro e a cúpula teve de reconhecer a impossibilidade de convivência no mesmo palanque, mas Dilma continuou cortejando Fogaça".

A crescente opção pelo pragmatismo que orienta as políticas de alianças não são gratuitas e estão relacionadas, por um lado, a crescente homogeneização ideológica dos partidos e por outro, no caso do PT, ao processo de burocratização e ossificação do partido. Ao fenômeno de homogeneização ideológica  e da crescente burocratização, no caso do PT, tem-se ainda o fenômeno do lulismo, amplamente analisado, entre outros, por autores como André Singer, Luiz Werneck Vianna, Francisco de Oliveira, Ivo Lesbaupin, Ricardo Antunes Rudá Ricci.

Movimento Social x pragmatismo político

Uma das vítimas do pragmatismo dos partidos políticos acaba sendo, indiretamente, o movimento social. O movimento social brasileiro participou e apostou fortemente na conquista do aparelho do Estado. É fato que Lula é em parte personificação da história e das lutas do movimento social brasileiro. Na realidade, Lula é resultado de dois grandes movimentos que se desenvolveram simultaneamente na sociedade brasileira. De um lado, Lula é produto da modernização conservadora, ou seja, Lula não existiria sem a 'Era Vargas' – o Estado nacional-desenvolvimentista que industrializou o país e instaurou a legislação trabalhista e a estrutura sindical. Mas para além de Vargas, Lula também é resultado do período JK, que abriu o país para o capital transnacional e trouxe as montadoras. O ABC do qual emerge Lula é uma síntese dos governos Vargas e JK – é o setor de ponta do capitalismo brasileiro da época e símbolo da modernização conservadora.

Porém, a modernização trouxe consigo o seu lado perverso, a gritante concentração de renda, o desenvolvimento desigual, a ausência das reformas sociais, os parcos e insuficientes investimentos na área da educação, saúde, saneamento e reforma agrária. O Brasil cresceu dividido, desigual, dual. Lula também é resultado desse Brasil. É produto da inconformidade dos movimentos sociais, da luta contra a modernização conservadora, da luta pela Reforma Agrária, da distribuição de renda, da urgência das reformas estruturais na saúde e na educação.

Lula é de certa forma, a metasíntese do Brasil dos últimos 80 anos: um país moderno e conservador. A grande aposta dos movimentos sociais foi a de que Lula no poder faria um governo sintonizado com o seu histórico de movimento social. Porém, Lula no governo optou pela síntese entre os interesses do capital e do trabalho e em função dessa opção, apresenta em seu interior profundas contradições. A unanimidade do movimento social em torno de Lula pré-conquista do Estado se desfez com o governo Lula pós-conquista do Estado. Agora, muitos movimentos apóiam integramente Lula, alguns apóiam parcialmente outros fazem oposição.

Por outro lado, o "imaginário de transformação social" que embalou os principais movimentos sociais e as principais lutas nos anos 1980 se perdeu. A convicção de que a realidade pode ser transformada, originário do "comunitarismo" de décadas passadas, perdeu a sua força e o encantamento com a política já não existe mais. Os movimentos sociais vivem uma profunda crise e estão longe de exercerem o protagonismo dos anos 1980 e 1990.

A fragilização do movimento social vis a vis a um Estado forte, dotado de recursos, mecanismos de cooptação, discurso político à semelhança do feito pelo movimento social e não criminalização do mesmo tem levado parcelas significativas e crescentes do movimento social brasileiro a tolerar e absorver o pragmatismo político como inevitável. O governo do PT estaria aquém do desejado, porém, dentre as opções disponíveis considera-se que a sua continuidade, mesmo com suas contradições, é a melhor opção. Nesse contexto é que deve ser interpretado a declaração de apoio das centrais sindicais e, sobretudo, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) à candidatura de Dilma Rousseff. A explícita defesa de uma candidatura, mesmo condicionada a um programa, afasta-se de uma das características mais importantes do movimento social: a autonomia. Nessa perspectiva, o açodado apoio de importantes organizações do movimento social brasileiro é criticável.

Ficha Limpa

Vitória política e moral da sociedade brasileira

Na esteira, e simultâneo ao pragmatismo dos partidos políticos brasileiros, a sociedade brasileiro recebeu uma boa notícia: a aprovação do projeto Ficha Limpa. "Uma vitória política e moral da sociedade brasileira". Assim definiu o jornal Le Monde  a aprovação do projeto de lei de iniciativa popular Ficha Limpa. Segundo o jornal, "foi uma petição impressionante e inédita no Brasil. Mais de um 1,5 milhão de eleitores a assinaram; mais de 3 milhões a apoiaram na internet. E essa iniciativa popular, prevista pela Constituição, tornou-se lei, votada por unanimidade pelos deputados e senadores. Uma lei anticorrupção, com um nome simbólico: Ficha Limpa".

Na opinião do Le Monde, "a adoção da lei ficha limpa é uma vitória política e moral espetacular da sociedade civil em um país onde a corrupção e seus corolários – nepotismo, clientelismo, favoritismo – corroem a vida pública em todos os níveis, dos ministros aos mais modestos vereadores. A opinião pública mostrou com impacto que ela não quer mais ser representada por políticos de ficha suja".

A reação entusiasta do jornal francês com a Lei Ficha Limpa, manifesta o quando ainda a sociedade civil brasileira é forte e capaz de iniciativas importantes e ousadas. Destaque-se, que o projeto, uma lei de iniciativa popular, encampado pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), uma rede de 44 organizações, teve na Igreja, sobretudo, nos movimentos de base da Igreja, a força decisiva para avançar.

A Lei Ficha Limpa vem na esteira de outra importante lei de combate à corrupção política, a Lei 9.840 que pune a comercialização do voto. A Lei 9.840, também aprovada por uma lei de iniciativa popular há dez anos, já levou à cassação de mais de mil pessoas por compra de voto. Entretanto, a Lei não dava conta de uma expertise: quando ameaçado da cassação, o político renunciava para evitar a inelegibilidade em uma próxima eleição, ou mesmo já cassada, nada a impedia de concorrer novamente. A Lei Ficha Limpa corrige essa situação e uma vez cassado o político haverá o impedimento de disputar uma eleição por oito anos.

A Lei afirma que toda personalidade política condenada em primeira instância por órgão colegiado – a sentença de um único juiz não basta – por corrupção eleitoral, compra de votos ou desvio de verba será inelegível por oito anos.

A proposta chegou à Câmara dos Deputados em setembro de 2009, depois de uma campanha que além do apoio de uma série de organizações, entre elas, e em destaque da CNBB;
contou com o apoio das
redes sociais da WEB.

A Lei Ficha Limpa, já é considerada por muitos a maior revolução na política brasileira nos últimos anos. Segundo o juiz  Márlon Reis, desde o início um dos mais entusiasmados apoiadores do projeto, o "Ficha limpa já mudou a política". Segundo ele, "o maior mérito da campanha do ficha limpa foi ressaltar uma questão que era colocada em segundo plano, que é a vida pregressa dos candidatos, como parte da campanha".

Na opinião de um dos coordenadores nacionais da Articulação Brasileira contra a Corrupção e a Impunidade (Abracci), o ex-vereador Chico Whitaker, "a vitória do Ficha Limpa provou que em toda a sociedade há o sentimento de que não é possível mais conviver com a corrupção e a impunidade na política brasileira".

Destaque-se o próprio judiciário viu-se envolvido pelo projeto. Segundo a procuradora Luiza Eluf a decisão do TSE de estender o poder da Ficha Limpa a casos anteriores à sua sanção deve-se ao fato de que o judiciário percebeu que "a sociedade quer seriedade não apenas do Legislativo e do Executivo, mas também do Judiciário".

Na opinião do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Ricardo Lewandowski,  "o eleitor pode ter certeza de que a Justiça Eleitoral aplicará a Lei da Ficha Limpa com o máximo rigor. Ela vai pegar, pois corresponde ao desejo manifestado pela sociedade brasileira de moralização dos costumes políticos".

Aprovado o projeto, o mesmo já começa a dar dor de cabeça a muitos partidos e políticos.
 36 deputados e senadores candidatos a reeleição já
entraram na mira do Supremo Tribunal Federal (STF) e estão ameaçados de ficar inelegíveis por práticas como trabalho escravo, corrupção, crimes eleitorais e até homicídio.

Ao mesmo tempo, a Lei da Ficha Limpa para candidatos condenados antes de sua sanção embaralhou de vez a montagem dos palanques em Estados importantes como Rio, Distrito Federal e Maranhão, entre outros. No Distrito Federal, o principal afetado poderá ser o ex-governador Joaquim Roriz (PSC), que renunciou ao mandato de senador para escapar de um processo de cassação; no Rio, o ex-governador Anthony Garotinho (PR) estuda a retirada da candidatura. No Pará, o deputado Jader Barbalho (PMDB) que lidera as pesquisas para o Senado e tinha sua eleição considerada certa, corre agora o risco de ver sua campanha barrada pela Justiça.

O PSDB passa a ter problemas imediatos com palanques de apoio ao candidato José Serra em pelo menos três Estados. No Maranhão, os tucanos tinham acertado coligação com o PDT, cujo candidato é o ex-governador Jackson Lago, cassado em 2009 por polêmica decisão da Justiça – Há suspeitas de ingerência de senador José Sarney na decisão.

Em outros dois Estados, a ameaça recai diretamente sobre candidatos tucanos. Em Rondônia, o ex-senador Expedito Júnior, que concorre ao governo, poderá ter o registro negado. Na Paraíba, o ex-governador Cássio Cunha Lima lidera as pesquisas para o Senado e é o principal cabo eleitoral no Estado para Serra.

Com forte apelo popular, a Lei Ficha Limpa arrancou até promessas dos principais partidos brasileiros, entre eles, PSDB e PT que afirmam que vão adotar a ficha limpa para seus candidatos. Jovita José Rosa, da coordenação do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), vibrou com a aprovação do projeto: "Estamos que é só alegria e já pensamos na reforma política. Se o Congresso não faz, a sociedade vai fazer. Estamos com uma mobilização boa, não podemos deixar que se desfaça. Temos que ousar mais", disse ela.

Vazamento no Golfo do México – desastre deve faz pensar – e agir!

Maior desastre ecológico da história dos Estados Unidos

O dia 20 de abril de 2010 vai, seguramente, entrar para a história universal como referência ao maior desastre ambiental dos Estados Unidos. Nesse dia, aconteceu a explosão da plataforma de petróleo Deepwater Horizon, da britânica British Petroleum (BP), matando 11 funcionários e despejando milhares de barris de petróleo diariamente na região. Calcula-se que 5.000 barris estejam vazando por dia.

Já se passaram mais de 60 dias, e verdadeiros "rios" de óleo continuam vazando. Após algumas tentativas fracassadas, a BP conseguiu instalar um sifão na saída do poço. Dessa maneira, consegue canalizar parte do óleo – cerca de 11 mil barris – para navios-tanques; a outra parte, algo entre 11 mil e 25 mil barris, segue indo para o mar.

Estima-se que uma solução definitiva só venha em agosto. Até agora, calcula-se que cerca de 550 milhões de litros de óleo tenham vazado no golfo. Os números são imprecisos, são diariamente atualizados e, assim mesmo, podem estar minorados.

A poluição causada pelo vazamento de petróleo e gás do poço está se espalhando por meio de colunas bem abaixo da superfície do mar, o que representa, segundo cientistas americanos, um perigo ainda maior para a vida marinha na região.

Segundo Samantha Joye, da Universidade da Geórgia, as concentrações de metano da coluna que sai diretamente do poço são até 10 mil vezes maiores do que as normalmente encontradas, com consequências ainda não sabidas sobre a fauna local. Isso embora muitas partes do Golfo do México já sejam consideradas "zonas mortas" devido à poluição decorrente em grande medida da agricultura. Os fertilizantes a base de nitrogênio são transportados pelo Rio Mississippi, que alimenta o crescimento de algas. O aumento do plantio de milho para produção de etanol estaria agravando o problema, já se informava em 2007.

"É uma infusão de óleo e gás nunca vista antes, certamente não ao longo da História humana", disse Joye, acrescentando que só esta coluna tem mais de 24 quilômetros de comprimento, 8 quilômetros de largura, 90 metros de altura em uma faixa que vai de 700 a 1,3 mil metros de profundidade. Outras colunas chegam a mais de 70 quilômetros de comprimento. São proporções de um desastre de consequências desconhecidas.

Para piorar o cenário, bactérias estão consumindo alguns dos compostos químicos em um ritmo acelerado e assim reduzindo fortemente os níveis de oxigênio na água, embora ainda não a um ponto fatal para a vida marinha da região.

Com essas proporções, o vazamento na plataforma da British Petrolium já deixou para trás o até então maior e mais lembrado desastre ambiental em território norte-americano: o acidente do navio-tanque Exxon Valdez, em 1989, no Alasca, de onde vazaram 42 milhões de litros de óleo. No de agora, temos praticamente um desastre Exxon Valdez a cada dez dias.

British Petrolium fez economia "de risco"

A BP é acusada de fazer economia "de risco". "Parece que a BP repetidamente escolheu procedimentos arriscados para reduzir custos e não perder tempo, fazendo um esforço mínimo para evitar riscos", afirmaram Henry Waxman e Bart Stupak, principais deputados democratas no Comitê de Energia e Comércio da Câmara dos Representantes e que estão investigando o vazamento de óleo. Algumas das decisões parecem violar as diretrizes do setor e foram tomadas apesar de advertências funcionários da própria British Petrolium e de empreiteiras contratadas.

A pressa em colocar a plataforma em funcionamento e assim poder lucrar, parece ter sido uma das razões de diversos "atalhos" tomados pela petroleira. A sociedade britânica teria optado, principalmente por razões econômicas, por um tipo de revestimento de cimento da tubulação do poço submarino, que traria vantagens em termos de duração no tempo, mas também um alto risco de fuga de gás.

documentos internos da empresa que mostram que havia sérios problemas na plataforma Deepwater Horizon e que a empresa não deu a devida prioridade às questões de segurança.

Mas, a BP não se dá por vencida. Como forma de minimizar os estragos na sua imagem – e nos lucros – fez várias tentativas desesperadas de vetar o acesso e a divulgação das informações relativas ao desastre. Uma das suas ações foi a compra de termos de busca em inglês nos sites de pesquisa Google e Yahoo! relacionados ao desastre. Dessa maneira, quando um internauta pesquisa palavras referentes ao desastre, os primeiros resultados disponíveis direcionam para sites da BP. Outra ação procura negar o acesso de jornalistas e congressistas americanos às áreas atingidas pelo vazamento de petróleo na Louisiana, quer seja por terra ou por ar.

Desastre deixará rastro ambiental sério e duradouro

"Os danos do vazamento como já se sabe são extensos e se propagarão por décadas", afirma Sérgio Abranches. Mas, observa, terá consequências econômico-sociais "importantes e também de médio prazo no mínimo: perda de atividade econômica na região do Golfo; pescadores mergulhando na pobreza, diante do colapso da pesca; receitas do turismo despencando; altos custos de indenizações e pagamentos de seguros". Estima-se que só na Flórida o vazamento deverá provocar o fechamento de 195 mil postos de trabalho e prejuízos da ordem de US$ 11 bilhões.

Os prejuízos à indústria pesqueira na Louisiana poderiam chegar a US$ 2,5 bilhões, e o impacto ao turismo na península da Flórida pode ser de até US$ 3 bilhões.

A limpeza do óleo pode levar anos, de acordo com a Guarda Costeira dos Estados Unidos. Mas, os impactos vão mais longe. O vazamento atinge em graus variados a vida do local e, mais grave, ameaça aves marinhas, manguezais e coloca em risco especialmente variedades de peixes como o marlim, o peixe-vela e o peixe-espada, além do atum azul. Na lista de espécies em risco entram também algumas aves, como o pelicano-marrom, o batuíra melodiosa, e o esturjão.

Mas, a lista, de acordo com o Centro Biológico da Diversidade (CBD), inclui também várias espécies de animais que estão em risco de extinção, como as tartarugas oliva e de couro, a baleia cachalote. "Há centenas de aves e mamíferos marinhos que são muito sensíveis ao petróleo", disse o professor Michael Blum, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Tulane. "Muitas espécies que causam grande preocupação, como as tartarugas e os golfinhos, se reproduzem, se alimentam ou atravessam esta região em sua rota migratória", explicou, em reportagem de Matthew Cardinale.

Ainda não se conhece o impacto que terá o vazamento e o uso sem precedentes de um dispersante altamente tóxico – chamado Corexit 9500 – sobre as espécies silvestres, reconheceu a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos. "Estamos profundamente preocupados pelas coisas que desconhecemos, como o efeito no longo prazo sobre a vida aquática", disse a secretária da EPA, Lisa Jackson.

E a preocupação de Lisa Jackson tem fundamento. Especialistas alertam que vazamento pode prejudicar também ecossistemas das profundezas do Golfo do México. Hoje, os cientistas identificaram aproximadamente uma centena de locais no golfo, onde comunidades de fontes frias de moluscos, mexilhões e vermes tubulares prosperam em profundidades sem sol. Trata-se da descoberta de habitats sem sol alimentados por uma nova forma de alimento. Os micróbios que servem de base na cadeia alimentar vivem não de minerais quentes, mas de petroquímicos frios que brotam do leito gelado do mar.

"Os pesquisadores têm manifestado forte preocupação com a ameaça aos ecossistemas escuros. O vazamento é um aumento concentrado em um ambiente de vazamento crônico, difuso e lento de petroquímicos por grande parte da borda da plataforma continental ao norte do golfo. Muitos fatores, como a densidade do petróleo nas ondas submarinas, o tamanho da redução de oxigênio resultante e a toxicidade potencial dos dispersantes de petróleo – todos desconhecidos – podem se transformar em ameaças que podem superar quaisquer possíveis benefícios e danificar, ou até mesmo destruir, os ecossistemas escuros", escreve William J. Broad.

Política climática e energética de Obama podem sofrer inflexões

O desastre no Golfo respingou no presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Ele está sob ataque por ter, inicialmente, demorado para dimensionar o vazamento no Golfo do México. Com a demora na solução de vedação do poço, Obama mostra-se "irritado e frustrado"; em outro momento quer saber "qual bunda chutar" para conter o vazamento.

Mas, Obama não é Bush. Teve maior sensibilidade – ou necessidade – em relação ao caso. Fez quatro visitas às áreas afetadas. Anunciou a interrupção de novas perfurações para a prospecção de petróleo no golfo e prorrogou por mais seis meses uma moratória para a exploração de petróleo na costa do Atlântico dos EUA, autorizadas em março deste ano. Obama suspendeu também todas as novas licenças para exploração de petróleo no mar, medida sem muito efeito prático, uma vez que não havia licenças a serem concedidas. Exigiu que a BP criasse um fundo de compensação de 20 bilhões de dólares, soma módica em relação ao que o poder público vai ter de investir – para pagar custos com limpeza e indenizações. Pronunciou-se publicamente várias vezes sobre o caso.

São iniciativas com vistas a mostrar o envolvimento pessoal de Obama na crise. Assim mesmo, a sua imagem ficou respingada pelo petróleo vazado no Golfo do México. A "impotência" do governo em solucionar a crise podem levar água abaixo o ambicioso programa de reformas de Barack Obama. Há também quem veja no desastre petrolífero um conluio entre mercado e Estado contra o interesse público, no qual Obama, indiretamente, também estaria envolvido.

Obama está disposto a revisar a política energética. No começo de junho, Obama pediu que os congressistas aprovem o fim de isenção de impostos para companhias de petróleo e acrescentou que vai buscar apoio de republicanos e democratas para a reforma. "Temos que reconhecer que existem riscos inerentes em perfurações a quatro milhas abaixo da superfície da Terra. Estes riscos aumentam à medida que a extração de petróleo fica mais difícil", afirmou.

Mas, a ampliação da perfuração em águas profundas é peça-chave da política energética de Obama, que quer ver aprovada no Senado uma lei que reduz a dependência dos EUA de óleo importado e amplia a energia renovável. Ao liberar o litoral do Atlântico e o norte do Alasca às perfurações, o governo espera reduzir a dependência de óleo do Oriente Médio e angariar votos republicanos para a lei de mudança climática, em fase crítica de tramitação no Senado.

Entretanto, diante do desastre no Golfo do México, e enquanto persistirem os problemas do vazamento, a aprovação de uma reforma da política energética está praticamente descartada.

Vazamento no Golfo – melhor propaganda pelas energias alternativas

Evidentemente, ninguém em sã consciência desejaria um desastre com as proporções do ocorrido na plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México. Mas, são poucos os que relutam em aceitar que o mesmo está sendo uma ótima propaganda das energias alternativas.

O fato é que, como escreve Sérgio Abranches, a economia do petróleo foi duradoura afetada pelo vazamento. "Esse é o tipo do desastre que não cai no esquecimento, porque suas consequências continuarão visíveis e provocarão perdas por anos a fio. A exploração de petróleo em profundidade no mar sofrerá restrições regulatórias e enfrentará cláusulas de precaução, em várias frentes. No médio e longo prazo, aumentarão os desincentivos ao uso de combustíveis fósseis e os incentivos à energia renovável limpa. Os programas de pesquisa e desenvolvimento em novas energias serão acelerados. A adoção de veículos elétricos e híbridos também", escreve Abranches.

Para o teórico da era do pós-petróleo, Jeremy Rifkin, o acontecimento deve ser visto como um "basta": "Agora basta. Esta é uma das mais graves catástrofes da história americana. É inaceitável continuar a correr riscos semelhantes. É preciso instaurar uma moratória imediata da extração de petróleo offshore em todo o Golfo do México", diz ele.

"Não é suficiente. É preciso suspender a atividade das plataformas de extração de petróleo em toda a área. O Golfo do México, sob muitos pontos de vista, é uma zona de excepcional importância: há extraordinários paraísos naturais, um turismo rico, uma indústria da pesca muito importante. Não se pode continuar a fazer pender sobre tudo isso a ameaça de um desastre ecológico como o que temos ante os olhos nestas horas. Chegou o momento de escolher: de um lado, é a velha economia do petróleo, que já produz pouco bem-estar e muitas catástrofes; do outro lado, está a terceira revolução industrial baseada na eficiência, na inovação tecnológica, nas fontes renováveis", enfatiza Rifkin.

Segundo Richard Steiner, que acaba de renunciar à cátedra na Universidade do Alasca sob pressão do establishment do Estado de Sarah Palin, "a verdadeira lição desse desastre é sobre o custo oculto do petróleo. Espero que possamos nos mobilizar para fontes alternativas de energia. Podemos ser até acusados de ingenuidade, mas ainda assim temos que insistir nisso. Temo que seja desperdiçada a última grande chance de promover energia sustentável antes de um colapso ecológico". Para em seguida acrescentar: "Quanto mais cedo a transição for feita, melhor não só para o planeta, mas também para o bem-estar econômico deste país. Já estamos 40 anos atrasados, deveríamos ter despertado no começo dos anos 70".

Como alerta a professora Larissa Ramina, doutora em Direito Internacional: "Deveríamos inserir no centro do debate sobre a crise ambiental a redução do padrão da demanda energética. O consumo aumenta a um ritmo maior do que a descoberta de novas jazidas, e estas, por sua vez, são de mais difícil acesso, e logo com custos de produção mais elevados e maiores riscos ambientais".

Por isso, a pergunta do professor Frederico Brandini, Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), é pertinente: "Mas de quem é a culpa, afinal? Apenas da BP? Ou da demanda mundial por energia?" Para logo emendar: "Não, a culpa é de toda a cadeia produtiva. E nós, coletivamente, somos responsáveis por tudo isso porque nos acomodamos na conveniência dessa dependência dos combustíveis fósseis como matriz energética".

Conjuntura da Semana em frases

Momento de ouro

"Acho que vivemos um momento de ouro neste país. É um crescimento exuberante. Acho que o Brasil merecia e precisava disso" – Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República – O Globo, 09-06-2010.

"Tudo indica que a economia brasileira fechará 2010 com a maior taxa de crescimento dos últimos 24 anos" – Cristiano Romero, jornalista – Valor, 09-06-2010.

Como Jesus...

"Estamos fazendo o que Jesus nos ensinou: a multiplicação dos pães para que os pobres possam ter acesso àquilo que, até então, era só de uma parcela da sociedade brasileira" – Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República – O Globo, 10-06-2010.

Dividido

"O setor  (do álcool) está dividido. Já ouvi que não tem como não ajudar o Lula, mas outros vão ajudar o Serra" -  Milton Monti, deputado federal - PR-SP - Valor, 09-06-2010.

Preço alto

"A aliança de Dilma Rousseff com o PMDB de Michel Temer está consagrada. A menos de uma semana das convenções, o presidente Lula impôs ao PT de Minas Gerais uma derrota humilhante, desautorizando as lideranças regionais e fechando um acordo de cúpula" – Carolina Bahia,  jornalista – Zero Hora, 08-06-2010.

Risco

"Consciente de que partiu para o tudo ou nada, Lula não se preocupa em colocar em risco o futuro do PT nos Estados. Antigos companheiros e mesmo o partido são enquadrados para que Dilma seja levada ao Palácio do Planalto. E também não importa o preço. Afinal, uma das especialidades do PMDB, mesmo dividido, é saber cobrar" – Carolina Bahia, jornalista – Zero Hora, 08-06-2010.

Na marra

"O acordo mineiro foi firmado na marra, após uma série de reuniões que contaram com a presença de Dutra e Dilma, além dos presidentes da Câmara, Michel Temer (SP), e do Senado, José Sarney (AP), às vésperas das convenções do PMDB e do PT, marcadas para sábado e domingo" - Eugênia Lopes e Vera Rosa,  jornalistas – O Estado de S. Paulo, 08-06-2010.

Patrus

"Estou feliz porque finalmente o PT de Minas decidiu fechar o apoio ao senador Hélio Costa. Agora, está em uma fase de decidir quem vai ser o (candidato a) vice. Se dependesse da minha vontade, se eu fosse mineiro e pudesse dar um voto, o Patrus seria vice do Hélio agora, porque a campanha é para ganhar as eleições de verdade" – Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República – O Globo, 15-06-2010.

Projeto nacional

"Estamos fazendo tudo em nome do projeto nacional para o casamento com o PMDB. Se a Roseana foi líder do governo Lula quando era senadora, como agora não serve para o PT apoiar?" – José Genoíno, deputado federal – PT-SP – O Estado de S. Paulo, 11-06-2010.

Vice

"Perdi para o Pimentel o cargo de vice-presidente da Associação dos Atropelados pelo Lula. O presidente é o Ciro Gomes" — Fávio Dino, deputado federal (PCdoBMA) e candidato ao governo do Maranhão – O Globo, 10-06-2010.

Sem o PMDB... de Sarney... o que seria do Brasil!

"Sem o PMDB, o Brasil não teria chegado, como chegou hoje, pela mãos do presidente Lula, a um novo patamar mundial" – José Sarney, senador – PMDB-AP – O Globo, 13-06-2010.

Sacerdotisa

"(Dilma) É uma mulher competente, que viveu na juventude intensamente a luta política, mas não guardou ressentimentos nem ódio. Ela tem sido uma sacerdotisa do serviço público" - José Sarney,  senador – PMDB-AP – O Globo, 13-06-2010.

Sarney

"Não adianta votar em ninguém. Se perderem, eles (os Sarney) dão um jeito para voltar" – Brasil, motorista maranhense – Valor, 22-06-2010.

Maquiavel

"Passei o dia lendo O Principe de Maquiavel. Seus principios da busca do poder pelo poder se aplicam bem a alguns setores do PT,de MG e MA" – Leonardo Boff, teólogo – twitter, 13-06-2010.

Integridade

"Não há hoje ninguém que diga que o PT se destaca por sua integridade" – Frei Betto, escritor – O Estado de S. Paulo, 14-06-2010.

E Frei Betto pergunta

"Me pergunto se o PT voltará, algum dia, a ser fiel a seus princípios e documentos de origem. Hoje, ele luta por governabilidade ou empregabilidade de seus correligionários? É movido pela ânsia de construir um novo Brasil ou pelo projeto de poder?" – Frei Betto, ex-assessor do governo Lula – Adital, 11-06-2010.

Falta de opção

"Lula fez a escolha possível porque as outras se queimaram. Dilma é candidata por falta de opção" – Frei Betto, escritor – O Estado de S. Paulo, 14-06-2010.

Lorota

"Lorota a história de que Lula não dispunha de outros nomes para suceder-lhe depois da queda de José Dirceu da Casa Civil e de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda. Patrus Ananias, por exemplo, foi o ministro do Bolsa Família. É mineiro como Dilma. E tem votos. Assim como Tarso Genro, Marta Suplicy e Aloizio Mercadante" – Ricardo Noblat, jornalista – O Globo ,14-06-2010.

Entrar pesado

"Ele (Lula)vai entrar pesado na campanha depois da Copa do Mundo. Vai estar à disposição da equipe de Dilma à noite e nos finais de semana. Não vai descansar" – Gilberto Carvalho,  chefe de gabinete de Lula – Folha de S. Paulo, 14-0-2010.

Dinheiro

"No caso dos deputados, o que decide a eleição é o dinheiro. Quem não tem dinheiro nem se arrisca" – Carlos Ranulfo,  professor do departamento de Ciência Política da UFMG – O Globo, 13-06-2010.

Inferno

"Participar de eleição, hoje, é ir atrás de dinheiro, com regras que, de tão rigorosas, podem levar à perda do mandato. E o pior inferno para um candidato é pedir dinheiro. Absolutamente constrangedor. Sempre fica uma coisa no ar, do que você vai dar em troca" – José Eduardo Cardozo, deputado federal – PT – SP – Valor, 18-06-2010.

Aparelhamento

"Deputado bom, hoje, é quem aparelhou um ministério ou uma secretaria estadual. E não há mais exceção em nenhum partido político. Até dar bola está dando voto. Quem privilegia mais o debate, a formulação, a opinião, os temas mais reflexivos ou a elevação da qualidade e justiça das leis perde cada vez mais eleitor" - Paulo Delgado, deputado federal – PT-MG – Valor, 18-06-2010.

Lula e o paletó

"Quando se usa paletó de três botões, o da ponta de baixo não precisa abotoar. Ele abotoou os dois de baixo e deixou o de cima aberto. Não fica bem, Artur. Um operário qualificado como você precisa se vestir adequadamente" - Lula, dando consultoria de estilo ao presidente da CUT, Artur Henrique, na reunião do "Conselhão" – Folha de S. Paulo, 18-06-2010.

A mais limpa

"A minha ficha é a mais limpa do Brasil. De trabalho, de realização e 43 anos sem nenhuma condenação" – Paulo Maluf, deputado federal – PP-SP – Folha de S. Paulo, 22-06-2010.

Lula melhorado

"A Marina é o Lula melhorado" – Leonardo Boff,  teólogo – Folha de S. Paulo, 09-06-2010.

Mulher negra

"Que cada homem e mulher que tem fé possa rezar. Os que não tem, possam torcer para que no dia 1º de janeiro o Brasil possa ter a primeira mulher negra, de origem pobre, na Presidência do Brasil" – Marina Silva,  candidata à presidência da República – Folha de S. Paulo, 11-06-2010.

Vice

"Fiz alguns aportes para o caixa do PV, que somaram R$ 1 milhão até agora. Meu limite é mais de natureza ética. Não comprei a vaga de candidato a vice-presidente. É um sacrifício estar na posição que estou. Era muito mais confortável estar na posição em que eu estava antes" - Guilherme Leal, empresário, candidato à vice-presidente da República na chapa de Marina Silva – PV – Folha de S. Paulo, 12-06-2010.

Lado

"Esse relatório tem um lado: o relator contratou uma assessora do agronegócio" - Ivan Valente, deputado federal - PSOL-SP – criticando o relatório de Aldo Rebelo sobre o Código Florestal – O Estado de S. Paulo, 09-06-2010.

Fúria

"(Saramago) era um escritor muito produtivo, que escrevia muito, com grande alegria e muita raiva. Havia muita fúria nele. E que bom, porque se enojava dos filhos da puta" – Carlos Fuentes, escritor mexicano – O Estado de S. Paulo, 20-06-2010.

Camarada

"Qué bien jugó hoy Argentina. Pudieron ser cinco goles. Felicidades camarada Maradona." - Tweet enviado ayer por Hugo Chávez,  presidente de Venezuela a Maradona - Página/12, 13-06-2010.

Gaúcho

"Dunga é gaúcho, do extremo sul do Brasil. E eles são os brasileiros mais reacionários" – Sócrates, ex-jogador de futebol em entrevista ao jornal The GuardianZero Hora, 17-06-2010.

Cavalos

"Em parte, ele tem razão. O Rio Grande do Sul é um pouquinho atrasado. Muitas cabeças vão embora em busca de um contexto mais globalizado, são músicos, artistas plásticos. Os gaúchos ainda fazem exposição de cavalos" – Maria Tomaselli, artista plástica – Zero Hora, 17-06-2010.

Cueca

"Não deixei. Tem que ter alguma coisa que seja exclusiva da esposa, né?" – Carolina Célico, pastora evangélica e mulher de Kaká, dizendo que o proibiu de sair de cueca, com outros craques, na "Vanity Fair" – O Globo, 13-06-2010.

Fonte: WWW.ihu.unisinos.br, 23/06/2010

 
CÁRITAS DIOCESANA
     CAXIAS DO SUL