O primeiro dia da 40º assembleia estadual da Cáritas Regional Rio Grande do Sul, que está ocorrendo em Santo Ângelo/RS, foi marcado pelos debates sobre o tema central do evento “Por um mundo sem fome e sem pobreza”. Motivados pela oração e pela abertura oficial, os cerca de 60 agentes que estão participando da atividade, debateram e partilharam experiências sobre a superação da fome e da pobreza.
A Cáritas Diocesana de Santa Cruz, relatou também a experiência, “Banco de sementes crioulas – Sementes da solidariedade” que ganhou o terceiro lugar do Prêmio Odair Firmino de Solidariedade. O Banco de sementes, tem como objetivo cultivar e guardar as sementes crioulas, que são mantidas num banco para que possam ser retiradas e plantadas por agricultores.
O membro do CONSEA (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) nacional e do FIAN (Rede de Ação e Informação “Alimentação primeiro” internacional, Irio Conti, abriu os trabalhos trazendo alguns dados sobre a fome no mundo. Segundo ele, 870 milhões de pessoas passam fome no mundo. Na América Latina, são 62 milhões. Sobre a pobreza, no Brasil, 25,3% ou 48 milhões d pessoas vivem na pobreza e 8,8% ou 16,2 milhões na extrema pobreza. “A fome e a pobreza no Brasil, tem problemas estruturais que começam com a grande desigualdade que existe em nosso país. A proporção de superação das desigualdades, foi onde o Brasil menos avançou. Ter um país que ainda está em terceiro lugar em desigualdade, no mundo, significa que temos um desafio enorme na superação da pobreza”.
Irio também citou a transferência de renda, como outro problema estrutural. Ainda que haja iniciativas por parte dos governos, mas é insuficiente se for feita apenas para os mais pobres, entre os pobres. “Deveríamos erradicar muito mais essa transferência, no sentido de transformá-la em uma renda básica, ou seja, a renda básica que possibilitasse que todas as pessoas, pudessem ter uma vida digna”.
Sobre os desafios para que as organizações como a Cáritas, possam contribuir para o fim da fome e da pobreza no Brasil, ele reforçou alguns pontos. “Fome e pobreza são indissociáveis. O alimento é a necessidade mais básica do ser humano. É um direito das pessoas. Por isso, a Cáritas está dando um passo muito importante em trazer novamente esse assunto para a igreja e para a sociedade, pois esse não é um tema superado, ele existe e precisa ser discutido”.
Segundo ele, ainda, dentro da área das políticas públicas, se chegou à uma falsa ideia que a pobreza extrema chegou ao fim. “A campanha internacional da Cáritas mostra que isso não é real, a pobreza não chegou ao fim e inclusive ela possuí novas faces, novos rostos. O desafio da Cáritas está em identificar esses novos rostos e manifestações do que ela é, de acordo com as diferentes realidades culturais e sociais e dizer para a igreja e para a sociedade que essa problemática existe e clama por solução”, concluiu.
Ainda no final do primeiro dia, a secretária da Cáritas Brasileira, Maria Cristina dos Anjos, lembrou dos encaminhamentos da campanha internacional da Cáritas “Uma família mais humana – Alimentos para todos” que será lançada no dia 10 de dezembro. “No Brasil, o nome da campanha será “Família humana – pão e justiça para todas as pessoas”. Ela faz parte de um plano estratégico da Cáritas Internacional que defende que todas as pessoas tenham acesso aos alimentos de qualidade, em quantidade suficiente. Muito ligada a soberania alimentar, ela quer gerar a sensibilidade sobre o tema e mobilizar o povo brasileiro para o dialogo e para a mudança efetiva”.
Cáritas Diocesanas apresentas experiências de superação da fome e da pobreza
Como parte dos debates, as Cáritas Arquidiocesanas de Passo Fundo, Santa Maria apresentaram duas experiências de superação da fome e da pobreza.
O projeto “Catando Cidadania”, realizado pela Cáritas de Santa Maria, trabalha com mulheres e crianças, realizando diversas oficinas e artesanato. As crianças que estudam, no turno inverso às aulas, participam de aulas de reforço escolar, oficinas e diversas atividades. Também, é oferecido almoço e anches com produtos fornecidos pelo PAA e outros programas. Parte desses alimentos é distribuído para as famílias dessas crianças.
Em Passo Fundo, a Cáritas atua na garantia de direitos na segurança alimentar, nutricional e sustentável. O trabalho iniciou em 1962, com os “Alimentos para a paz” e continua até hoje com oficinas culinárias de multiplicadores, trabalho voltado a educação nutricional, entre outros.